Harvey ficou conhecido por ter descrito corretamente o sistema circulatório.
No entanto, essa descrição já constava do Sharh Tashrih al-Qanun (Comentario sobre a Anatomía do Canon de Ibn Sina (Avicena)), de Ibn al-Nafis, médico árabe do século XIII.
Já se falava em 'circulação do sangue' e as válvulas venosas existentes em várias grandes veias já tinham sido descritas por vários autores no século XVI. Aferrados às ideias de Galeno, no entanto, de que o sangue sempre fluia do coração para os órgãos, interpretaram que elas serviriam para 'lentear' o fluxo sanguíneo, por forma a evitar congestões nos pés e nas mãos.
Harvey, ao contrário, intuiu corretamente que elas têm a função de auxiliar a circulação do sangue em direção ao coração, evitando o possível contra-fluxo devido à gravidade.
Através de um experimento simples, demonstrou o circuito correto da circulação:
Isso demonstrava que o sangue corre das artérias para as veias, ao contrário do modelo galênico.
Mas, Harvey, não satisfeito, contemporâneo de Galileu, utilizou ainda seu método quantitativo para sua demonstração. Avaliou em 52 g a quantidade de sangue bombeada em cada contração do coração. Como este bate cerca de 72 vezes num minuto, obteve um valor de 72x52x60=224,6 kg de sangue bombeado a cada hora, cerca de três vezes o peso de um corpo humano, o que inviabilizou a hipótese galênica de que o sangue é continuamente produzido no fígado e consumido na periferia do corpo, vista na aula História da Epistemologia.
Com isso, Harvey posicionou o coração como um órgão ativo no processo circulatório, responsável único pelo movimento do sangue, equivalente a uma bomba, contribuindo para visão mecanicista da Revolução Científica Européia. Possivelmente inspirado pelo heliocentrismo em voga na época e, talvez, como uma homenagem velada a Galileu, denominou o coração de princípio da vida e sol do microcosmo, tal como o Sol poderia ser visto como o coração do mundo.
Seu trabalho recebeu elogios de Descartes e de Robert Fludd, médico e ocultista inglês, embora este mais pelo seu interesse nas analogias entre o Microcosmo e o Macrocosmo.
Estudando Embriologia, afirmou que toda a vida é originária de um ovo, idéia revolucionária que só foi confirmada no século XIX, quando se descobriu o óvulo humano. Vale lembrar que, até então, se acreditava que o espermatozóide continha um ser humano completo em miniatura, um homúnculo, como o de Paracelso, já visto antes, que apenas maturava no útero feminino, tal como Leeuwenhoek imaginava ter visto no seu microscópio (vide adiante). Esta concepção parece ser derivada da noção alquímica de homúnculo, proposta por Paracelso, como visto na parte anterior.
Apesar disso, Harvey morreu acreditando que a função dos pulmões era a de resfriar o coração e que este produzia o espírito vital no sangue.
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Por ter trabalhado algum tempo polindo lentes, familiarizou-se com o processo e desenvolveu a sua própria técnica de fabrico que manteve secreta e que se manteve irreproduzível durante muitos anos. Em vez de polir lentes para dar o formato desejado, Leeuwenhoek levava ao fogo o centro de um bastão de vidro ótico até que este centro se desfizesse num 'bigode' finíssimo. Depois, levava esse 'bigode' novamente ao fogo, o qual se coagulava numa minúscula esfera que ser tornava numa lente divergente de alta qualidade.
Devido a essa facilidade, diz-se que possuía a maior coleção de lentes do mundo e cerca de 250 microscópios, geralmente construindo um novo cada vez que tinha um espécimen interessante.
Com seu microscópio, rudimentar para os dias de hoje, descobriu a estrutura celular dos vegetais. Designou de 'glóbulo' o que Hooke posteriormente chamou de célula.
Descreveu as fibras musculares, as bactérias, os protozoários, o fluxo de sangue nos capilares sanguíneos de peixes e os espermatozóides.
Como se pode imaginar, a descoberta dos espermatozóides causou-lhe problemas com os teólogos neerlandeses, pois se acreditava que organismos assim pequenos se produzissem por geração espontânea, crença mais ou menos mantida pela Igreja da época, só refutada no século XIX por Pasteur.
O italiano Francesco Redi, em suas "Experiências sobre a geração de insetos", em 1668, havia provado que larvas não nasciam em carne que ficasse protegida por telas, de forma que as moscas não pudessem lá botar seus ovos.
Leeuwenhoek observou que não importava o quão cuidadosamente a matéria orgânica fosse protegida por telas, ou fosse colocada em recipientes tampados, uma vez que a putrefação ocorresse, ela era invariavelmente acompanhada de uma miríade de bactérias e outros organismos.
Sua descoberta dos microorganismos chocou a Royal Society, com quem já vinha há tempo compartilhando suas descobertas. Após muita insistência sua, e a visita de uma comissão investigadora, sua descoberta foi aceite e ele foi nomeado como membro.
No entanto, Leeuwenhoek acreditava ter visto que o espermatozóide continha um ser humano completo em miniatura, um homúnculo, que apenas maturava no útero feminino.
Para além da sua suposta familiaridade com o pintor Vermeer, Leeuwenhoek foi designado executor do testamento de Vermeer e curador de seus bens quando de sua morte.
Em sua homenagem, o asteróide 2766 foi denominado 'Leeuwenhoek'.
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Malpighi, utilizando o microscópio, descobriu que, ao contrário do que se imaginava, cada órgão do corpo apresenta uma estrutura própria. Descobriu também a estrutura dos capilares sanguíneos e alvéolos pulmonares, como se ligam as artérias com as veias, fechando, finalmente, o modelo circulatório proposto por Harvey.
Naturalmente, como Lavoisier ainda não havia descoberto o oxigênio, nem seu papel na respiração, como vimos na aula Lavoisier e a Revolução Química, Malpighi apenas sugeriu que o sangue venoso simplesmente se agitava nos alvéolos, misturando a porção vermelha com o soro, transformando-se em arterial.
Malpighi também descreveu muitas outras estruturas, tais como os glóbulos vermelhos, as papilas da língua, as glândulas intestinais, as camadas da pele e os glomérulos renais.
Mas, novamente, o conservadorismo reagiu: colegas da Universidade de Bolonha o insultaram publicamente e recomendaram aos estudantes que esquecessem o que ele ensinava, pois Galeno já havia dito as palavras definitivas sobre o assunto (GOTTSCHALL, 2004, p. 178).
Em sua homenagem, o asteróide 11121 foi denominado 'Malpighi'.
Assim, como se ia fazendo costume na Revolução Científica Européia as idéias provenientes de observações através de instrumentos, Leeuwenhoek e Malpighi com o microscópio, Lavoisier com a balança, Galileu com o plano inclinado, iam substituindo as idéias provindas de especulações e crenças filosóficas, o Empirismo vai desalojando o Escolasticismo.
Borelli utiliza termômetros para mostrar que o coração não é o órgão mais quente do corpo.
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