O instrumento chamado Vê Epistemológico de Gowin foi criado por D. Bob Gowin em 1977. É um instrumento 'metacognitivo', tal como os mapas conceituais.
Gowin constatou que os alunos saíam das aulas
experimentais
sem entender o que haviam feito:
Por isso, ele desenvolveu o Vê para
ajudar os
estudantes (e
professores!) a compreender:
O Vê é dividido em quatro
regiões:
O pensamento de quem constrói ciência está 'contaminado', para o melhor e para o pior. Alguns exemplos famosos:
- o Pitagorismo de Kepler,
- a heliolatria de Copérnico,
- o platonismo de Galileu,
- o empiriocriticismo de Mach,
- o realismo de Einstein, Schrödinger e de Broglie,
- o neopositivismo da Escola de Copenhague, etc.,
Os princípios sempre foram questionados. São o produto de juízos cognitivos e de valor de investigações anteriores;
Note, porém, que os investigadores sempre 'viram' os fenômenos e os objetos com os sentidos e mentes cheias de conceitos e teorias, enredados de um modo tão complexo quanto idiossincrático.
Algumas relações entre esses elementos que se podem indicar são:
A estrutura de um projeto pode se relacionar com a do Vê de Gowin:
Um projeto ou qualquer trabalho acadêmico vai passar por uma avaliação. No entanto, os avaliadores geralmente estão assoberbados de trabalho e essa avaliação poderá ser feita de forma apressada e, às vezes, injusta.
Uma maneira de aumentar as chances de um julgamento favorável - para além da qualidade intrínseca do trabalho - é tentar que essa avaliação seja menos apressada e isso pode ser conseguido ao se despertar o interesse do avaliador.
Há que se fazer o trabalho se vender bem ao avaliador, através de 'anzóis', tal como se faz numa peça publicitária.
1. O primeiro anzol é o Título. Um título não apenas apropriado mas original desperta a atenção e curiosidade do avaliador. Não será apenas 'mais um trabalho' a avaliar.2. O segundo anzol é o Resumo. O Resumo é, depois do título, a próxima coisa a ser lida. Muitas vezes decidimos a compra de um livro pelo resumo. O mesmo sucede com o avaliador. Um resumo não só completo e bem estruturado, mas escrito de forma aliciante 'seduz' o avaliador para continuar lendo o trabalho.
3. O terceiro anzol é a Introdução. Como o nome diz, aqui é que o avaliador vai ser 'apresentado' às idéias e à proposta do projeto. Imagine que desagradável é estar numa festa em que não conhece ninguém. Se você tivesse sido apresentado logo na entrada a algumas pessoas com interesses comuns, sua presença na festa seria muito mais agradável.
Cabe, portanto, ao autor, como bom afitrião, fazer uma boa apresentação ao leitor, para que nenhum ponto importante fique desconhecido; para que ele saiba que trabalho é esse, de onde vem, o que pretende, etc.
É evidente que, sendo o 1º anzol, o título deve ser aliciante e não algo pedante e rebuscado que desencoraje o possível leitor, tal como o do Calvin, na figura abaixo.
Segundo Lichtfouse, os melhores títulos enfatizam a novidade, o valor acrescentado ou o que o artigo acrescenta ao conhecimento corrente: 'Nova...', 'Um inesperado...', 'Evidência de...', 'Uma alternativa ao...' (LICHTFOUSE, 2013, p. 11).
Da mesma forma, sendo o 2º anzol, o resumo deve continuar o trabalho de 'seduzir' o avaliador para continuar lendo o trabalho.
Segundo Lichtfouse,
“O resumo não deve ser nem curto nem comprido demais. Também não deve simplesmente expor os resultados. Ele deve sumarizar todo o trabalho, incluindo o contexto, as questões gerais e específicas e as hipóteses em três ou quatro sentenças, bem como todo o experimento em no máximo mais quatro sentenças. Finalmente, deve em cinco ou seis sentenças incluir um resultado principal e dois de suporte, bem como justificar sua novidade e explicar suas implicações e benefícios” (LICHTFOUSE, 2013, p. 19).
“O resumo começa com três ou quatro sentenças que sumarizam o problema, as questões gerais e os desafios específicos. a introdução começa discutindo esses pontos em detalhe e termina com a hipótese, a qual deve se propor a solucionar o problema descrito. O problema é brevemente recapitulado em duas ou três sentenças no começo da seção de análise de resultados; subseções desta seção devem descrever os resultados individuais encontrados e terminar com uma análise do significado, da novidade e dos benefícios do resultado encontrado, o qual deve corresponder ao problema inicial. Estes elementos são repetidos ao fim do Resumo e são novamente repetidos no fim da conclusão, a qual começa com uma breve revisão do problema a ser resolvido, por forma a destacar o valor acrescentado do resultado” (LICHTFOUSE, 2013, p. 23, Fig. 9).
Na próxima parte, discutiremos em mais detalhe como construir um título e um resumo adequados, em função das palavras-chave.
Continuando com a relação da estrutura de um projeto com a do Vê de Gowin,
Durante a formulação do projeto de pesquisa, algumas perguntas relevantes são:
Uma vez tendo sido desenvolvido o projeto, é hora de divulgar os resultados em forma de um artigo cientírico.
As considerações acima sobre a relação do Vê de Gowin com a escolha e formulação do título, do resumo e introdução, problema, hipótese, objetivos, fundamentação teórica e metodologia se mantém.
Para o artigo, temos, porém, algumas relações novas:
Segundo Lichtfouse, diferentemente da tese, para um artigo,
“Seleciona-se [apenas] um resultado inovador e dois resultados secundários que dão lhe suporte e reforçam sua interpretação como base do artigo. Os demais resultados podem vir a ser publicados em outro artigo se merecerem ou nunca ser publicados de todo” (LICHTFOUSE, 2013, p. 22, Fig. 8).
Há que ter foco: “Resultados em excesso escondem o resultado novo” (LICHTFOUSE, 2013, p. 21).
Esperamos ter demonstrado que a utilização do Vê Epistemológico de Gowin ajuda enormemente na estruração consistente de um trabalho acadêmico.
Por outro lado, já vimos que Ciência é uma construção social.
Desde os tempos do Padre Mersenne que ela é construída pela comunicação entre os cientistas. Por isso, a qualidade e a eficácia dessa comunicação são essenciais.
Publicar não é uma 'obrigação' acessória após a 'pesquisa': publicar é parte essencial do processo de construção da Ciência!
Como já dizia o 'filósofo' Chacrinha,
Ou, como dizem os anglo-saxões há anos: publish or perish (publique ou pereça)!
Na verdade, Lichtfhouse diz que
“Deve-se começar a escrever o mais cedo possível, mesmo que não se veja a potencial novidade nos resultados preliminares: é possível que estes resultados 'ocultos' sejam assunto de um artigo piloto antes de proceder com os demais experimentos” (LICHTFOUSE, 2013, p. 7).
Escrever sobre a pesquisa ajuda a clarificá-la até mesmo para o próprio pesquisador!
Ainda, segundo Lichtfouse,
“O artigo deve começar a ser escrito antes de começar o experimento, ainda quando se está preparando a proposta de pesquisa, formulando as hipóteses e projetando o experimento” (LICHTFOUSE, 2013, pp. 7–8).
“Durante a realização da pesquisa, a escrita continua, não só na forma do registro dos resultados, mas no de todas as observações feitas, dificuldades encontradas, situações inesperadas, boas e más, etc.. Finalmente, quando a pesquisa está terminada, todas as informações são recolhidas, analisadas e sintetizadas em forma do artigo” (LICHTFOUSE, 2013, p. 8).
Agora, quanto ao seu artigo?
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