2 - Por que
História e Epistemologia da Ciência?
Tudo muito interessante, mas
Por
quê História e Filosofia das
Ciências?
Essa
falta de História no Ensino de Ciências
não é nova.
Francis
Bacon, já
no séc. XVII, protestava que
nenhuma
ciência era
ensinada
segundo o caminho de sua elaboração.
Já
Auguste
Comte (pai do Positivismo, que veremos em
outra
aula) pregava um ensino
através de
exposição
dogmática dos
principais resultados das ciências por meio de manuais
seguindo
uma ordem lógica, linear de fatos. Acreditava que
a
Ciência do passado era
inferior a do presente, não havendo necessidade de se "
perder
tempo" com sua compreensão (vide BRAGA;
GUERRA; REIS, 2011).
Segundo Bachelard, seria mais
simples ensinar
apenas os resultados da ciência, mas isso não
seria nunca um ensino
científico. Se não se explica a linha
de produção
intelectual que
conduziu ao resultado,
pode-se estar seguro que o aluno combinará os resultados com
suas
imagens familiares. É preciso que ele compreenda
e não se pode reter senão compreendendo.
Vale a pena fazer
aqui sem mais
demoras um esclarecimento importante entre três conceitos ou
níveis
discursivos:
- História,
"entendida como
um
conjunto de situações e acontecimentos
pertencentes a uma época e a uma região – que
é o objeto
de estudo dos historiadores" (MARTINS, 2005)
- Historiografia, "o produto
primário da atividade
dos historiadores", "constituída essencialmente por textos
escritos", que "reflete sobre os acontecimentos históricos,
mas agrega-lhe um caráter discursivo novo."
Apesar disso, muitos autores usam a palavra 'história' para
descrever ambos os níveis. (MARTINS,
2005)
- História da
Ciência.
"As ciências naturais são
um estudo sobre a natureza e, como tal,
correspondem a um segundo nível" e
deveria,
assim, mais propriamente ser chamada de Historiografia da
Ciência.
"Além desses dois níveis (natureza e
ciência) podemos ressaltar um terceiro, o
dos estudos
meta-científicos, que inclui a filosofia da
ciência, a metodologia
científica e a história da ciência."
"Os historiadores da ciência não refletem sobre os
fenômenos naturais e sim sobre os
seres humanos envolvidos no estudo dos fenômenos
naturais." Com isso, "o produto do trabalho dos historiadores da
ciência não é a história da
ciência e sim a
historiografia da ciência." (MARTINS, 2005)
Apesar disso, para não sobrecarregar o
texto destas
aulas, usaremos sempre as expresões 'História'
e 'História da Ciência' em vez das mais
apropriadas 'Historiografia' e 'Historiografia da Ciência'.
Os positivistas, de que falaremos mais adiante na aula Racionalismo
e Empirismo, tiveram uma
forte influência numa visão de senso-comum da
história como sendo um
mero acúmulo de fatos. Na
verdade, segundo Carr,
"A
convicção num núcleo sólido
de fatos históricos que
existem objetiva e independentemente da
interpretação do historiador é
uma falácia absurda, mas que é muito
difícil de erradicar."
(CARR, O Que é História?)
Mas a História das
Ciências
não deve ser utilizada apenas como
nota bibliográfica de rodapé ou de canto de
página, narração caricata de
anedotas ou lendas conhecidas de um ou outro
cientista, como costuma acontecer nos livros didáticos.
Para
Lakatos,
"A História
da Ciência
é com frequência uma caricatura
das suas reconstruções racionais; as
reconstruções racionais são com
frequência caricaturas da História; e algumas
histórias da Ciência são caricaturas
tanto da História como das suas
reconconstruções racionais." (LAKATOS,
História da ciência e
suas
reconstruções racionais)
Na
verdade, como aponta Schönberg,
"a
evolução
dos conceitos em Física é algo paradoxal e
extremamente
interessante, porque não é retilíneo,
mas um verdadeiro
ziguezague.
Contudo, a ciência vai progredindo, descobrindo novas
verdades, e mesmo
quando se volta para a idéia que existia antes,
não se volta do mesmo
modo com que ela havia sido formulada anteriormente." (SCHÖNBERG,
Pensando a Física, p.
52)
Mas,
como alerta Robilotta (O cinza, o branco e o preto),
é comum que,
fascinados
pela lógica, façamos um esforço para
linearizar a forma e o conteúdo da Física,
suprimindo as [importantes]
contradições
que marcaram o seu desenvolvimento. Os livros texto, em geral,
apresentam a História da Ciência como uma marcha
triunfante de sucesso
em sucesso.
Na verdade, segundo Roque (2012),
Numerosos exemplos mostram que a
história da ciência nessa época
não é tão triunfal como se acredita, e
que a historiografia tradicional construiu esse cânone para
justificar a imagem moderna da ciência" (ROQUE, 2012,
p. 279).
Teorias superadas
Exemplo
de teoria superada: Teoria do Flogístico
A
Teoria do Flogisto
(ou do Flogistico) foi proposta pelo químico e
médico alemão
Georg Ernst
Stahl entre 1703 e 1731 para explicar os processos de
combustão
e
calcinação, como
desenvolvimento do conceito
de
terra pinguis de
Becher.
Segundo
essa teoria, as substâncias combustíveis
possuiriam dentro delas o flogistico, um
'princípio' que, durante os processos de
combustão ou
calcinação, seria libertados para o meio
ambiente. Quando se acabasse
o flogístico da substância, ela não
poderia mais queimar e se tornaria
incombustível. O flogístico libertado
na
atmosfera seria gradualmente
absorvido pelas plantas.
Mas,
como veremos na aula Lavoisier e a
Revolução Química, a
Teoria do Flogístico tinha um grande poder
explanatório, o
que muito
contribuiu para sua sobrevivência.
Apesar disso, os livros texto,
em geral,
apresentam a História da Ciência como uma marcha
triunfante de sucesso
em sucesso, suprimindo as [importantes]
contradições
que marcaram o seu desenvolvimento (ROBILOTTA, O cinza, o branco e o preto),
obliterando
teorias que foram científicas em certa época e
foram, posteriormente,
superadas.
A
História dos vencedores
Tal como os antigos super-heróis são
esquecidos pelas gerações mais novas e
substituído por novos, ...
"Uma
nova verdade científica
não triunfa por convencer seus oponentes e
fazê-los ver sua luz, mas porque seus oponentes um dia morrem
e uma nova geração cresce
já familiarizada com
ela." (Max Planck, citado em KUHN, A estrutura das
revoluções científicas)
A
Falácia d''O
Método'
"[...] o método
científico
não é uma receita, uma
seqüência linear de passos que
necessariamente conduz a uma descoberta ou, pelo menos, a uma
conclusão ou a um resultado.
Na prática, muitas vezes, o cientista procede por
tentativas, vai numa direção, volta, mede
novamente, abandona certas hipóteses porque não
tem equipamento adequado, faz uso da
intuição, dá chutes, se deprime, se
entusiasma, se apega a uma teoria". (MOREIRA;
OSTERMANN, Sobre
o ensino do Método Científico)
A idéia d''O Método
Científico' é, sem dúvida, uma
falácia!
Os Mitos da Ciência
Por outro lado, como veremos na aula História
da Epistemologia - Parte 2, a visão do
público da
Ciência é repleta de mitos, tais como o de
que a Ciência é boa (mau
é seu uso), o de que a Ciência
é linear e cumulativa, etc.
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Sílvio. A pesquisa em Arte: Um
paralelo
entre Arte e
Ciência.
O que
você prefere, então?
Ser um
professor ingênuo.
Ter o
trabalho de aprender coisas
novas e mudar sua prática de ensino.
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dos SANTOS, Renato P. . In Física Interessante. 17 Jul. 2021. Disponível em: <>. Acesso em: .
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