Buffer

dissertação
Perfil Conceitual de Força

artigo Perfil Conceitual de ForçaO Conceito de Força na Física – Evolução Histórica e Perfil Conceitual. (Tane Radé) Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Luterana do Brasil para obtenção do título de mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Canoas, 2005.

Resumo
Os estudantes em sala de aula são, quase sempre, bruscamente submetidos a concepções científicas de cunho racional sofisticado, tais como força, energia, massa, trabalho entre outras, em contraponto com noções cujo caráter simbólico cotidiano lhes traz significações impregnadas de um empirismo simplista, concernentes ao senso comum vigente em seu contexto. Um dos grandes desafios a serem tratados nas relações ensino-aprendizado é, assim, o ensino de conceitos em ciências, tendo em vista os obstáculos de ordem epistemológica e ontológica, enfrentados tanto por alunos como também por professores, face às concepções alternativas ou idéias prévias sobre tais conceitos que os alunos trazem para sala de aula e que tendem a se manter inclusive após sua graduação, coexistindo simultaneamente com as concepções científicas. Mortimer (1995), buscando entender essa coexistência, construiu um modelo, denominado ‘perfil conceitual’.

Para o desenvolvimento deste projeto, foi selecionado o conceito de força, que é um conceito considerado maduro em ciências, possui um largo espectro histórico para uma análise crítica mais acurada. O objetivo deste trabalho é construir, com base na pesquisa bibliográfica selecionada, um perfil conceitual de “força”, partindo de seu desenvolvimento histórico e ontológico, associado a aspectos de sua epistemologia psicogenética, visando identificar as categorias epistemológicas e ontológicas presentes na literatura consultada, para uma melhor compreensão da coexistência de concepções alternativas e conceitos científicos, nas diversas etapas do processo de ensino-aprendizado, desde a escola fundamental até a formação acadêmica. 

O perfil conceitual de força foi construído através de uma Matriz Epistemológica que articula diferentes visões epistemológicas, segundo processo delineado por Santos (2005), conforme disposto na Metodologia. As visões epistemológicas utilizadas foram a visão histórico-epistemológica do conceito de força, desenvolvida por Jammer (1957), desde a Antigüidade até a Contemporaneidade; a visão psicogenética desenvolvimental segundo a pesquisa de Piaget com crianças (1973); as etapas do desenvolvimento psicogenéticohistórico
de força, segundo Piaget & Garcia (1983), desde Aristóteles até Newton, e as concepções alternativas e newtonianas de alunos, analisadas em diversos trabalhos de pesquisa na área. A análise desta matriz buscou identificar possíveis categorias do perfil conceitual do conceito de força, mediante um processo de reinterpretação e síntese das diferentes visões epistemológicas e ontológicas deste
conceito. Esta análise histórica nos possibilitou a identificação de oito zonas representativas para o perfil conceitual de força, indicando com tal variedade de concepções, a complexidade de um conceito tão usual e aparentemente simples.

Por outro lado, entendemos que o perfil conceitual pode ser utilizado como instrumento para aceder às representações dos estudantes com relação a conceitos em ciências, ensejando aos professores desenvolverem estratégias que os façam evoluir para a noção conceitual científica.

downloadAdobe file (.pdf)

Referências

  • ÁLVARES, Beatriz Alvarenga & LUZ, Antonio Máximo Ribeiro da. Curso de Física 1. São Paulo: Harbra, 1987.
  • AMARAL, Edenia Maria Ribeiro & MORTIMER, Eduardo Fleury, Conceptual profile of spontaneinity and the teaching of Thermochemistry. in 6th European Conference on Research in Chemical Education e 2nd European Conference on Chemical Education, Aveiro, 2001.
  • AUSUBEL, David P.; NOVAK, Joseph D. & HANESIAN, Helen. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Editora Interamericana Ltda., 1980.
  • BACHELARD, Gaston. La Philosophie du Non, PUF, Paris, 1940 (trad. Port.: A Filosofia do Não: O Novo Espírito Científico, Lisboa: Presença, 1991).
  • BATTRO, Antonio M., Dicionário terminológico de Jean Piaget, São Paulo: Pioneira, 1978.
  • BREHME, Robert W. On force and the inertial frame. American Journal of Physics, College Park: AAPT, v. 53, n. 10, pp. 952-955, out. 1985.
  • BROWN, David E. Students’ concept of force: the importance of understanding Newton’s third law. Physics Education, Bristol: Institute of Physics Publishing, Ltd., v. 24, pp. 353-358, nov. 1989.
  • BUNGE, Mario. Teoria y realidad. Barcelona: Ariel, 1985
  • BURNET, John, Greek philosophy 1950, Londres: Macmillan, 1950, p. 70.
  • BUTLAND, Valéria Rodrigues Graça, Um Estudo sobre o uso Pedagógico da História da Ciência no Ensino de Física, 2005. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) – Universidade Luterana do Brasil, Canoas, 2005. 159
  • CARRIÃO, A., A aquisição do conceito de função: perfil das imagens produzidas pelos alunos. in: II Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós-Graduação em Educação Matemática, 1998, Rio Claro, 1998, p. 99-103.
  • CHI, Michelene T.H. & ROSCOE, Rod D. The processes and challenges of conceptual change. In LIMON, M. & MASON, L. Reconsidering Conceptual Change: Issues in Theory and Practice. Dordrecht: Kluwer, 2002. pp. 3-27
  • COUTINHO, Francisco Ângelo. O Perfil Conceitual do Conceito de Vida. Tese de Doutorado (Educação) - Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.
  • CRETELLA JUNIOR, José & CINTRA, Geraldo de Ulhoa. Dicionário Latino - Português. São Paulo: Companhia EDITORA Nacional, 1953.
  • DOLLE, Jean M. Para Compreender Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983.
  • DOMÉNECH, A.; CASASUS, E. & DOMÉNECH, M. T. I. B. Buñol/Universidad de Valencia, Buñol, Valencia, Spain: Int. J. Sci. Educ., 1993, nº 2, 163-173.
  • DUHEM, Pierre, Études sur Leonard de Vinci. Paris: De Nobele, 1955, vol. 3, p. ix.
  • ERNOUT, A. & MEILLET, A. Dicionário Etimológico da Língua Latina – História dos Nomes. Paris: Librairie C. Klincksieck, 1951.
  • GALILI, Igal & BAR, Varda. Motion implies force: where to expect vestiges of the misconception? International Journal of Science Education, London: Taylor & Francis, v. 14, n. 1, pp. 63-81, jan./fev./mar. 1992.
  • GOBARA, Shirley Takeco, Profil conceptuel et Situation-problème. Une contribuition à l'analyse de l'apprentissage de la périodicité en Physique, Tese de Doutorado, Université Claude Bernarde Lyon I, LYON I, Lyon: França, 1999.
  • GORODETSKY, M; HOZ, R. & VINNER, S. Hierarchical solution models of speed problems. Science Education, 70, 565-582, 1986.
  • HALLIDAY, David; RESNICK, Robert & WALKER, Jearl. Fundamentos de Física – Mecânica. Vol. 1. Rio de Janeiro: LTC, 1996.
  • HENDERSON, Charles. Common concerns about the force concept inventory. The Physics Teacher, College Park: AAPT, v. 40, pp. 542-546, dec. 2002.
  • HESTENES, David; WELLS, Malcolm & SWACKHAMER, Gregg. Force concept inventory. The Physics Teacher, College Park: AAPT, v. 30, pp. 141-158, mar. 1992.
  • HEWSON, Peter W. A Conceptual change approach to learning science. International Journal of Science Education, Londres: Taylor & Francis, v. 3, n. 4, pp. 383-396, out./nov./dez. 1981. 160
  • HEWSON, PETER W.; THORLEY, N. Richard. The conditions of conceptual change in the classroom. International Journal of Science Education, Londres: Taylor & Francis, v. 11, n. 5, pp. 541-553, 1989.
  • HOUAISS, Antonio; VILLAR, Mauro de S. & FRANCO, Francisco M. de Mello. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de janeiro: Editora Objetiva Ltda., 1ª Ed., 2001.
  • Ideas Previas, Universidad Nacional Autónoma de México, http://ideasprevias.cinstrum.unam.mx:2048/, acessado em 22/4/2005.
  • JAMMER, Max. Concepts of Force: A Study in the Foundations of Dynamics. Mineola, NY: Dover Publications Inc., 1999 (orig. ed. 1957).
  • MACHADO, José P. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa Vol. 1. Lisboa: Editorial Confluência, L.da, 1952.
  • MAISSIAT, Georges I. Pequeno Dicionário de Latim. Porto Alegre: EDIGAL, 2002.
  • MALONEY, David P. Forces as Interactions. The Physics Teacher, College Park: AAPT, v. 28, n. 6, pp. 386-390, set. 1990.
  • McCLELLAND, J. A. G. Misconceptions in mechanics and how to avoid them. Physics Education, Bristol: Institute of Physics Publishing, Ltd., v. 20, pp.159-162, 1985.
  • MICHINEL, José Luís, ALMEIDA, Maria José Pereira Monteiro, O Funcionamento da Leitura de Textos Divergentes Referentes a Energia: Perfil conceitual de Estudantes de Física. in VII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física, 2000, Florianópolis - SC. São Paulo: Sociedade Brasileira de Física -SBF, 2000.
  • MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1999.
  • MOREIRA, M. A. A Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, O Ensino de Ciências e a Pesquisa nesta Área. Investigações em Ensino de Ciências. Porto Alegre: Instituto de Física – UFRGS, v. 7 n. 1 2002.
  • MORTIMER, Eduardo Fleury. Conceptual change or conceptual profile change? Science & Education, West Sussex: John Willey & Sons, vol. 4, n. 3, p. 265-287, 1995
  • MORTIMER, Eduardo Fleury. Construtivismo, Mudança Conceitual e Ensino de Ciências: Para Onde Vamos?. Investigações em Ensino de Ciências, v. 1 n. 1 pp. 20-39, 4/1996.
  • MORTIMER, Eduardo F. Linguagem e Formação de Conceitos no Ensino de Ciências. Belo Horizonte: Editora UFMG. 2000. 161
  • MORTIMER, Eduardo Fleury & AMARAL, Edenia Maria Ribeiro. Uma Proposta de Perfil Conceitual para o Conceito de Calor. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 1 n. 3 pp. 5-18, 2001.
  • Nova Enciclopédia Barsa, Vol. 6, - Macropédia. Rio de Janeiro e São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, Publicações Ltda., 1998.
  • OLIVEIRA, Gabriel Aguiar; SOUSA, Cristiane R.; DA POIAN, Andrea T. & LUZ, Mauricio Roberto Motta Pinto, Students' misconceptions on Energy Yielding Metabolism: Glucose as the sole metabolic fuel. Advances in Physiology Education. Bethesda, MD: American Physiological Society, v. 27, n. 9, pp. 97-101, set./2003.
  • PALMER, David H. & FLANAGAN, Ross B. Readiness to change the conception that “Motion-Implies-Force”: A comparison of 12-year old and 16-year old students. Science Education, West Sussex: John Willey & Sons, v. 81, n. 3, pp. 317-331, jun. 1997.
  • PIAGET, Jean, Os Dados da Epistemologia Física, in Logique et Connaissance Scientifique, Ed. Gallimard, Paris, 1967, (ed. portug.) Lógica e Conhecimento Científico, Livraria Civilização, Porto, 1981, p. 15.
  • PIAGET, Jean, O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.
  • PIAGET, Jean & GARCIA, Rolando, Psychogenèse et Histoire des Sciences, Paris: Flammarion, 1983 (trad. port.: Psicogénese e História das Ciências, Dom Lisboa: Quixote, 1987)
  • PIAGET, JEAN et al.. La Formation de La Notion de Force. Études d’Épistémologie Génétique XXIX. Paris: PUF. 1973.
  • POSNER, George J.; STRIKE, Kenneth A.; HEWSON, Peter W. & GERTZOG, W.A. Accommodation of a scientific conception: toward a theory of conceptual change. Science Education, West Sussex: John Willey & Sons, v. 66, n. 2, pp. 211-227, abr. 1982.
  • SADANAND, Nanjundiah & KESS, Joseph. Concepts in Force and Motion. The Physics Teacher, College Park: AAPT, v. 28, n. 8, pp. 530-533, nov. 1990.
  • SANTOS, Renato P. dos. Uma Proposta para o Perfil Conceitual do Conceito de Massa na Física. Anais do IX EPEF – Encontro de Pesquisa em Ensino de Ciências, Jaboticatubas, MG, SBF, 26 a 29 de Outubro de 2004. São Paulo: Sociedade Brasileira de Física -SBF, 2005.
  • SARTON, George, Introduction to the history of science. Baltimore: Williams and Wilkins, 1931, vol. 2 part 2, p. 763.
  • SAVAGE, Michael & WILLIAMS, Julian. Centrifugal force: fact or fiction? Physics Education, Bristol: Institute of Physics Publishing, Ltd., v. 24, pp. 133-140, 1989. 162
  • SCHNETZLER, Roseli Pacheco & ROSA, M. I. P. S., Perfil epistemológico de Bachelard e a noção de perfil conceitual para transformação química, in 20ª Reunião Anual da SBQ, 1997, Poços de Caldas: v.3. p.3, 1997
  • SEARS, Francis; ZEMANSKY, Mark W. & YOUNG, Hugh D. Física, vol. 1. Rio de Janeiro: LTC, 1994.
  • TERRY, Colin; JONES, George & HURFORD, Will. Children’s conceptual understanding of forces and equilibrium. Physics Education, Bristol: Institute of Physics Publishing, Ltd., v. 20, pp. 162-165, 1985.
  • TIPLER, Paul A. Física. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1984.
  • WATTS, Michael & ZYLBERSZTAJN, Arden. A survey of some children’s ideas about force. Physics Education, Bristol: Institute of Physics Publishing, Ltd., v.16, n. 6, pp. 360-365, nov. 1981.
  • WATTS, Michael. A study of schoolchildren’s alternative frameworks of the concept of force. European Journal of Science Education, Londres: Taylor & Francis, v. 5, n. 2, pp 217-230, 1983.
  • ZAÏANE, Najoua, Conceptual profile of pupils and students of the radiation, Proceedings of the 4th ESERA Conference, Noordwijkerhout, Holanda, 2003.

  • Voltar a Artigos Científicos.


    Citar esta página:
    dos SANTOS, Renato P. . In Física Interessante. 17 Jul. 2021. Disponível em: <>. Acesso em: .

    Voltar ao começo desta página

    Voltar à página principal de Física Interessante


e-books Grátis


View Renato P. dos Santos's profile on LinkedIn

Renato P. dos Santos